Capitã Marvel, uma perspectiva feminina.

Já estava na hora de um filme assim para gente.


Eu poderia fazer uma crítica imparcial, analisando esse filme como mais um filme do MCU, pensando só na construção do roteiro/personagem e na produção, como se o mundo fosse perfeito e igualitário para todos os gêneros e etnias. Mas o mundo não é perfeito, assim como também não é o mesmo para todos, por mais que muitos, dentro de uma bolha, achem que é.

Na verdade, contextualizar é um processo importante em qualquer análise, ou seria justo comparar friamente os efeitos especiais de Homem de Ferro I com os efeitos mais modernos? Pelo contrário, o primeiro filme do Homem de Ferro é endeusado justamente por ter sido o primeiro filme a abrir as portas a um novo gênero cinematográfico de filme de herói.

Não levar em consideração que Capitã Marvel é o segundo filme de heroína solo e o primeiro de ONZE ANOS de MCU seria completamente injusto com o longa-metragem, que tinha claramente consciência desses números e do seu público alvo.


Capitã Marvel é um filme de origem, o qual soube dar espaço para expansão do universo Marvel, contando um prologo do porquê Fury começou a iniciativa Vingadores, além de ter dado mais camada para o próprio personagem interpretado pelo Samuel L. Jackson. Mas nada que tirasse o foco da personagem interpretada pela Brie Larson, onde o cerne da história girava em torno de Carol Danvers descobrir quem ela é de verdade.

Sendo nessa descoberta que ela consegue se libertar das amarras impostas por uma sociedade fictícia, amarras bem parecidas com as que a nossa própria sociedade impõe sobre as mulheres. Durante todo o filme dizem a Danvers que ela tem que se controlar, que emoções agressivas são um sinal de fraqueza, que o poder dela pode ser tirado a qualquer momento, que ela tem que se provar digna e que ela não pertence aquele local.

Não estou falando que essas são situações exclusivas as mulheres, mas são situações que todas as mulheres já passaram (pelo menos em uma dessas). Afinal quem nunca ouviu e viu uma mulher se repreendida por ser “descontrolada”, ou muito agressiva, ou porque se destacou demais, ou que não se deu ao respeito, ou que estava no lugar errado?

A forma e os dilemas que Carol enfrenta não foi construído atoa, tem um subtexto que conversa com o expectador, principalmente o expectador feminino. Onde, como todo herói, a desfecho e a forma como ela lida com essas situações é colocado para inspirar esse público.

Sem contar que toda essa questão de Danvers não saber quem ela é e de não pertencer a algum lugar, casa com a história dos vilões do filme, os Skrulls, uma raça alienígena que pode tomar forma de qualquer pessoa e que estão a procurar de um lar.


O qual todo esse controle sobre essa personagem necessitava uma atuação contida. Não, a Brie Larson não estava uma porta (como li nas redes sociais), a Brie Larson estava fazendo o papel de uma pessoa que a todo o momento era mandada se controlar. Eu sei que você, nerd, está acostumado com as atuações dos personagens caricatos e sorridentes dos filmes de heróis, mas Carol Danvers não é uma personagem sorridente e piadista.

Quando ela estiver feliz, ela vai sorrir de boca fechada. Quando ela se irritar, ela vai fechar a cara, mas não forçar ou gritar. Quando ela gostar de alguém ela vai implicar com a pessoa e não falar diretamente. Uma atuação toda feita nas sutilizas.

(Sendo essa a primeira parte que mais de identifico com a personagem, visto que a vida inteira tento controlar a minha raiva e demonstro emoções de forma contida.)

Ainda na questão do feminino, o filme da Capitã Marvel busca desconstrui-lo. Veja bem, nem a Capitã, nem a Carol são o padrão que se espera de uma mulher, como eu disse acima elas estão boa parte do filme de cara fechada, e ambas usam roupas consideradas masculinas. O seu uniforme é literalmente um uniforme, parecido com um uniforme de piloto, sem saia, decote ou colam. Enquanto a sua vestimenta casual é jeans, camiseta e uma jaqueta. Assim também como a maquiagem dela foi feito para parecer a pele normal dela.

Onde a Carol Danver antes de ser a capitã Marvel se mostrava interessada em assuntos “masculinos”, como kart de corrida, vídeo game, velocidade, ser pilota de avião entre outros pequenos detalhes os quais a heroína mostra que meninas também podem gostar desses assuntos.

Assim como o filme também bate na tecla da sororidade (união e aliança entre mulheres, baseado na empatia e companheirismo), visto que não só mostraram a Carol com uma melhor amiga mulher, mas como deram um papel fundamental para essa melhor amiga. Onde ambas dão suporte uma a outra.


Além de uma terceira personagem que mudou a origem da Capitã Marvel comparando com a origem dos quadrinhos antigos. Digo antigos, pois em uma mais recente HQ chamada “A Vida da Capitã Marvel” também trouxe uma mudança para esse nascimento da personagem, uma mudança até bem parecida simbolicamente com a do filme.

Outro aspecto no sentido da quebra da expectativa do feminino é a falta de romance envolvendo a personagem principal. Não digo que romance é ruim ou que não possa existir, mas personagens femininas quase sempre tem um par romântico, que quase sempre são homens, fazendo com que a nossa individualidade seja apagada. Onde esse filme mostra justamente o contrário, visto que a Capitão Marvel busca se conhecer por ela mesma.


Mas isso, toda essa reflexão sobre a representatividade feminina, não faz com que esse filme não seja para você, homem, porque ele pode ser sim para você, se você quiser. Porque se eu, menina/mulher, consegui me entreter e até me identificar com todos esses filmes de heróis protagonizados por homens, porque você não conseguiria com um protagonizado por uma mulher?

(Se você, por exemplo, tem questões que envolve controlar emoções, use a Capitã Marvel como inspiração, porque ela também é um ser humano, e ela não precisa ser só um interesse romântico platônico.)

Porque todas essas questões femininas que eu falei são extras que o filme oferece, extras que fazem dele único (até o momento). Porque o filme da Capitã Marvel tem ação, comédia e um plot bem construído, como “todo” filme da Marvel, mas é o único filme da Marvel que é contato de e para uma perspectiva feminina.

Onde eu quero agradecer a esse filme, pois pela primeira vez estou sentido representatividade com uma heroína principal (apesar de gostar, não consigo me identificar com a Mulher-Maravilha e outras heroínas que consego me identifica fazem partes de grupos, sendo coadjuvantes).

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