Hannah Gadsby – Nanette [Review]

Não é só piada.

Eu não sei se o show Nanette, conduzido pela comediante Hannah Gadsby, poderia ser considerado um puro e simples stand-up. Ele é, de fato, uma comediante em pé contando piadas, mas ao mesmo tempo é um discurso.

Estreado exclusivamente na Netflix no final de junho desse ano, eu conheci esse show por um gif no facebook onde a Hannah falava a seguinte frase: “Não acredito que mulheres são melhores que homens. Acredito que elas são tão corruptíveis pelo poder quanto eles. Porque vocês, homens, não têm o monopólio da condição humana, seus babacas arrogantes!”.

Com os recentes acontecimentos de um certo youtuber e uma certa piada, eu acho esse espetáculo muito importante, e rico para um debate. Porque sabe aquela pergunta que os humoristas (homens) odeiam responder, aquela mesmo, “qual o limite do humor”? Onde todos eles divagam ou falam o que convém na hora de responder. Ou pior ainda, quando o cara fala: “Não, mas foi só uma piada!”. Ou o pior do pior: “Ah, mas vocês são tudo chata e mimizenta.” Pois é, ela responde a primeira pergunta. Explica que não é bem assim para o segundo. E mostra quem é que realmente está fazendo o verdadeiro mimimi.

Porém, não só de questões do machismo que ela trata, como lésbica, Hannah também coloca questões dos estereótipos lésbicos e identidade de gênero. Piadas envolvendo o mundo artístico, de como artistas não devem ser colocados em pedestais. Além de refletir sobre as piadas autodepreciativas e problemas psicológicos.

Um stand-up, que ao invés de fazer piada associando o negro ao arrastão, ou a mulher a piranha, ou o homem que parecia viado, faz a piada com homem cis hétero branco. Não rebaixando ele, como muito deles fazem com sigo mesmo e com o resto (achando que só porque ele se auto-zoa ele pode zoar todo mundo), mas de forma de abrir os olhos para dos privilégios que eles têm.

Não vou mentir, há piadas que por causa da língua e por ser de outra cultura (por mais parecida que seja) parte da graça se perde. Mas Nanette vai muito além de um espetáculo de comédia, ele é uma crítica social, uma crítica ao humor e acima de tudo, ele conta a história dessa lésbica de 40 anos que cresceu em uma cidade que até o ano de 1997 tinha a homoxessualidade como um ato ilegal.

Ele está na Netflix, tem uma hora de duração, assistam, reflitam e passem para os comediantes brasileiros.


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