Tungstênio [Crítica]


Sinopse: Um sargento do exército aposentado, um policial e sua esposa e um traficante se unem por um objetivo comum. Quando pessoas começam a utilizar explosivos para pescar na orla de Salvador, os quatro fazem de tudo para acabar com esse crime ambiental.

Crítica por Reinaldo Barros: Tal como o elemento químico, esse filme também tem a função de iluminar e ele vem para te abrir os olhos enquanto te entretém. Tungstênio é a primeira adaptação de um quadrinho nacional, escrito e ilustrado por Marcello Quintanilha. A HQ foi publicada em 2014 e premiada no Festival de Angoulême. O próprio Quintanilha participou do roteiro e disse ter ficado surpreso com a fidelidade à sua obra. E de fato foi fiel, pois fiz questão de procurar pelo quadrinho antes de começar a escrever. A direção e produção ficaram por conta de Heitor Dhalia.

Quando digo que essa obra vem para abrir os olhos é porque ela joga luz sobre algumas questões contemporâneas, aborda alguns problemas sem a pretensão de resolver, e o melhor é a dicotomização que acontece dentro dos personagens. Vemos personagens humanos, como na vida fora das telas, sem aquela retidão arquetípica ou a vilania caricata. Esses personagens são movidos pelos seus instintos, ora por desejos em ebulição, ora por desejos arrefecidos. O elenco está impecável e a estreante da sétima arte arrasou.

A estreante Samira Carvalho no papel de Keira

Aqui o protagonismo se divide em 4. Fabricio Boliveira dá vida a Richard, um agente da lei que em diversas ocasiões prefere seguir à margem para cumprir seus objetivos. A modelo e atriz Samira Carvalho interpreta Keira, uma esposa presa num relacionamento abusivo que já não suporta mais. José Dumont assume o papel de Seu Ney, um bolsonariano e sargento do exército aposentado, que vive se recordando dos tempos “áureos” da ditadura e se envolvendo em confusões com quem não presta continência. Wesley Guimarães é o Caju, um garoto da periferia, que viu no tráfico uma oportunidade para ganhar um trocado e sobreviver.

Essas histórias começam a se entrelaçar e dar corpo ao filme quando dois pescadores cometem um crime ambiental que é presenciado por Seu Ney e Caju. Instantes depois Richard é acionado para resolver o caso. Enquanto isso Keira fica sem respostas sobre o paradeiro de seu marido e é tomada por lembranças tristes e pesadas, que a fazem refletir a respeito de seu casamento.

Fabricio Boliveira na pele do policial controverso, Richard.

A partir daí vamos conhecendo os personagens e a complexidade de cada um e os recursos utilizados no filme são os mesmo do quadrinho, flashback e a narração, que no filme ganhou a voz de Milhem Cortaz. A intensidade do filme é tamanha que temos a impressão de ter assistido um curta e não um longa de uma hora e trinta minutos. Outro ponto positivo é o equilíbrio entre os momentos mais tensos e descontraídos, pois além de pensar sobre questões seríssimas como violência policial, relacionamento abusivo e fascismo nostálgico ainda dá para dar umas risadas com as micro reviravoltas e com alguns diálogos. O texto é excelente, na medida para cada um e em nenhum momento traz desconforto como aqueles característicos de novelas.

O único ponto negativo que me incomodou foi justamente a narração. Ela está bem-feita e em alguns momentos é necessária, porém tem algumas cenas que ela não nos deixa contemplar direito as expressões dos personagens, a profundidade do sofrimento.

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